Tem me chamado a atenção a constância com que tenho ouvido a palavra hermenêutica.
Desde então, eu não consigo parar de pensar no cuidado que as autoridades, os sacerdotes, os jornalistas, enfim, todos aqueles que exercem alguma influência na formação da cultura e da mentalidade de um povo devem ter com o uso das palavras.
Sabem os bons leitores, especialmente os interessados em história, sobre os conflitos ocorridos entre aqueles que queriam contribuir para que as pessoas menos esclarecidas tivessem acesso à informação e os grandes pensadores que pretendiam conservar a exclusividade e o protagonismo, relegando a massa a uma condição imposta de eterna inferioridade.
Até os dias de hoje não se percebe grandes sinais de mudança, incluindo a política do pão e circo, que os tiranos adotam desde os tempos remotos, enquanto o povo, tratado como massa de manobra, bovinamente aplaude.
Mais triste ainda é perceber que tem uma elite que se diverte com a ridicularização do povo humilde, alegando que seu comportamento avacalhado reflete a “cara do povo”.
Nesse caso, a hermenêutica é uma arma de destruição da honra, visto que esse tipo de interlocutor usa o deboche para conquistar simpatias. Essa desconstrução da imagem de uma sociedade, é o que acontece no Brasil, nada tem de positivo.
Por isso, é fundamental discernir o que é hermenêutica ou vulgaridade, o que informa e promove a construção de ideias ou aquilo que deforma e desorienta.
Todo cuidado é pouco quando alguém se auto-proclama o interlocutor entre os mais cultos e as massas, se o seu discurso não contribui para a evolução de seus ouvintes, principalmente quando gera intriga e divisão ou, pior ainda, a discórdia e até a violência entre grupos distintos.
Assim, assistimos multidões caminhando sem rumo, vítimas de uma série de desajustes e do mau exemplo, como também verificamos a decadência da sociedade que permite a deterioração dos hábitos e do comportamento, deliberadamente causada por lideranças sem escrúpulos.
Se as pessoas não evoluem, o país também não desenvolve, e esse, provavelmente, é o propósito dos que se julgam donos da consciência alheia e buscam desfazer para refazer do seu jeito.
As páginas da vida de um povo tornam-se, então, um vazio histórico, que precisam ser preenchidas com a vivência de cada um, não como querem os pretensos condutores do destino da humanidade.